DESAFIOS DA CÂMARA DE GONDOMAR
Solução para o recinto de feira/mercado de S. Cosme (Gondomar)
Confrontando o discurso político com a visita ao local, o espaço da feira é efetivamente um lugar vazio que nos dias assinalados fica ocupado com as tendas de comércio. Juntamente com esta “exposição de produtos” é aberto o mercado composto por três edifícios convergentes para um centro que dispõe de produtos hortícolas e enchidos. A sensação causada pelo conjunto que constitui a feira passa pelo isolamento de todo este comércio que parece voltar costas para os pavilhões desportivos e para o cemitério. O que a Câmara Municipal propõe é a mudança da zona de feira para o parque junto ao Pavilhão Multiusos, desfrutando de um espaço periodicamente e dando-lhe um sentido. Deste modo, o espaço antigo será tratado de uma outra forma e o mercado, no nosso entender, será também movido juntamente com a feira, o que promoverá zonas de equipamentos fixos.
O parque urbano que se encontra numa fase de execução vai fechar a rua que passa a meio, criando uma continuidade do espaço público projetado e propiciando um só sentido de mobilidade que findará no núcleo de transporte público no largo do Souto. Dessa forma, serão criados novos circuitos de circulação que implicarão, por vezes, a abertura de troços para ligar as novas trajetórias rodoviárias (ex: ligação da rua Ala Nuno Álvares à rua do casal). Atendendo a este ponto e dada a distância que se percorre para chegar ao ”centro” de São Cosme é proposta a abertura de uma nova via, quase paralela à A43 e à IC29, que ligar-se-á ao nó da autoestrada, de modo a viabilizar uma saída direta para esta zona central. Contudo, para esta via ser executada, ao que nos parece alguns terrenos teriam de ser cortados parcialmente o que não faz sentido, dado que não são de domínio público. De outra maneira, mesmo que convertendo a rua que ladeia o viaduto a uma cota mais baixa para rua de duplo sentido criar-se-ia um contraste altimétrico tão forte que pareceria desproporcional. Efetivamente, os campos de desporto que já se encontram em fase de execução não parecem estar adaptados à escala do viaduto, uma vez que na pior das hipóteses qualquer intervenção será sempre desproporcional dada a escala enorme da estrutura rodoviária.




Requalificação do complexo mineiro de S. Vicente (S. Pedro da Cova)
Em São Pedro da Cova as atenções recaem sobre o cavalete do Poço de São Vicente. Para além de estar classificado como monumento, é um marco de uma época de exploração mineira que surge ligada a um tempo de escravidão, mas também de oportunidades e de riqueza económica. Este desafio proposto pela Câmara assenta sobretudo na intenção de converter um dos edifícios das minas num museu que concentre as marcas históricas desse tempo, o que só parece fazer sentido se complementar o atual museu mineiro na Casa da Malta. Efetivamente toda a zona mineira e os edifícios que dela faziam parte mereciam uma recuperação pelo estado de degradação que apresentam e, de facto, o cavalete será alvo de uma intervenção no valor de 400 000€. No entanto, não faz sentido intervir no cavalete isoladamente, ele existe porque se inclui numa das funções das minas que se prende com a circulação das cestas metálicas de transporte do carvão.
Para além deste aspeto foi realçado o facto de a entrada para as serras do Porto não estar desenhada. Nesse sentido, o presidente propôs criarmos um desenho urbanístico como “porta de entrada” para o parque, realçado com ciclovias, percursos pedonais, um tratamento do espaço. A característica desta zona é bastante assinalada pelas montanhas, mas principalmente pela montanha artificial que cresceu com o depósito do carvão e que ultrapassou a cota da casa senhorial do diretor da mina. Desse modo, foi criado um novo contexto derivado da enorme presença das minas e hoje permite uma visão global da envolvente. Já junto da zona das piscinas e do pavilhão desportivo os arruamentos parecem bastante consolidados e sabe-se que os lotes adjacentes foram aprovados para construção. Contudo, não se verifica nenhuma construção em execução, os terrenos estão abandonados como se não tivessem feito parte de um planeamento prévio.



Pólo universitário da UP em Valbom
O polo da UP foi uma estratégia que o município de Gondomar encontrou para trazer mais população para as freguesias. De certo modo, é um pouco no sentido de combater o desígnio de “cidade dormitório” pelo qual é conhecida, mas não se estará a forçar uma inclusão de faculdades apenas para responder a este problema? Tal como é notório, o Porto já contém todas as faculdades sediadas no seu território e todas elas parecem responder bem ao programa em questão. Não nos parece viável estar a planear mais um polo universitário quando já existe no Porto uma diversidade enorme de faculdades que conseguem ter resposta aos cursos procurados. O potencial de Gondomar, tal como o presidente da Câmara já tinha tratado, deveria estar voltado para o desenvolvimento fabril, industrial, de modo a assegurar uma economia circular dentro do próprio concelho, uma vez que já se sabe que o setor habitacional não permite uma economia ativa, pois atribui mais despesas do que lucros.
Do ponto de vista da mobilidade têm havido controvérsias. A linha de metro tem sido estudada há bastantes anos e aquilo que poderia ter sido uma primeira abordagem no território para a linha que ligava Campanhã ao centro de Gondomar foi substituída, na altura da presidência de Valentim Loureiro, pelo planeamento da A29 (com pouco mais de 3km de extensão), o que obviamente joga num sentido de interesses e não de resposta às necessidades. No entanto, já foi aprovada uma nova linha de metro que iria passar pelo polo universitário, abrangendo também paragens em Valbom, no Hospital, no novo parque urbano (em execução) e tomando fim no lugar do Souto. Deste modo, torna-se mais funcional, mas mais uma vez os interesses só recaem sobre o norte e centro de Gondomar, deixando de parte o sul do município. Nós entendemos que o presidente e a equipa da Câmara não pensem no sul como uma oportunidade de investimento. Na verdade, achamos que já não investem tanto nessas zonas por não terem retorno imediato, num prazo de poucos anos. A verdade é que o sul dispõe de paisagens únicas que o norte não providencia e isso poderia servir de incentivo para a mobilização da população para essas zonas, mas para isso é preciso haver divulgação e investimento por parte das entidades superiores de modo a que a identidade desses lugares seja partilhada.


Tratamento da envolvente da nova via de Rio Tinto
Tal como o presidente da Câmara explicou a execução desta nova rua foi uma vontade de dar seguimento aos projetos da presidência anterior depositando total confiança nestes estudos. No entanto, durante a discussão deste ponto, aquilo que se veio a constatar foi um arrependimento do presidente quanto à execução desta rua. Desse modo, usa o incentivo da construção habitacional e industrial como justificação da sua abertura, dando a entender que os terrenos agrícolas adjacentes já não são explorados e valorizados com a mesma intensidade. Isso revela que, para além de uma atitude precoce e não deliberada, os poucos espaços verdes que existem serão dizimados para atribuir construção nova! Como é sabido em Portugal há inúmeros edifícios abandonados que anseiam ser reabilitados e reusados e, desta forma, a proposta não os viabiliza, apenas atribui mais índice construtivo a zonas que poderiam ser convertidas em parques urbanos para fazer “respirar” a cidade. Aquilo que já é denso tende a densificar mais se optarmos por estes caminhos, ao invés de lutar por uma desdensificação do solo num território que já é bastante concentrado construtivamente. Se olharmos para o município então esse contraste ainda é maior quando comparado com o sul, o que coloca em causa, mais uma vez, o contínuo desenvolvimento das freguesias do centro e do norte.
Para além disto, na freguesia de Rio Tinto, existêm já planos de ordenamento criados, com a infraestruturação já criada e no entanto, não estão totalmente ocupadas, pelo que será mais sustentável a sua conclusão primeiramente.


Tratamento da marginal ribeirinha do Douro
A zona da ribeira que faz fronteira com o rio Douro ainda permanece imatura no que toca ao desenho urbanístico. De um modo muito direto, o discurso político tende para um olhar de valorização económica e, portanto, é mais fácil pensar em intervenções que passem pela estruturação de “equipamentos de apoio” e de “espaços turísticos”. Quando olhamos para Espinho ou para a marginal do lado do Porto ou de Gaia, há um misto de programas e características, mas todos tendem a ser unidos por um desenho coeso urbanístico. É fácil pensar numa referência óbvia: os passadiços. De certo modo, acabam por criar uma padronização e uma “moda”, mas na verdade funcionam quando integrados numa ideia forte. Em Gondomar não nos parece que optar por intervenções semelhantes irá contribuir, pois a identidade e a condição dos lugares são diferentes. Estas zonas estão categorizadas como zonas de inundação, de risco de erosão, de proteção da albufeira e de reservas ecológicas nacionais, por isso convém adaptar o desenho e não generalizar um modo de intervir.
No entanto, sem olhar a aspetos técnicos, concentremo-nos no facto de o tratamento da marginal só ser consolidado até à entrada na Foz do Sousa e em direção ao moinhos de Jancido (património cultural): isso revela que, mais uma vez, os interesses recaem sobre o centro e o norte, quando toda esta zona ribeirinha ganha sentido sobretudo na zona da Lomba! Não há freguesia mais envolvida com o rio Douro do que a Lomba e não usá-la como parte integrante deste projeto da marginal é completamente inadequado, é não tirar partido de uma paisagem arrebatadora e do potencial da margem.

